Résumés
Resumo
“As sementes do mundo são espalhadas pela bondade dos seres vivos, dos bichos, dos ventos, da água”. Assim inicia a intervenção da antropóloga e ativista indígena Kowawa Kapukaja Apurinã. Sob a forma de ensaio realizado no ambiente da floresta, e por meio de um relato sensível e engajado, Kowawa nos guia para uma reflexão sobre nós mesmos. “Quais sementes espalhamos pelo mundo?”, ela indaga. Seu convite nos leva a olhar para as nossas próprias humanidades como inseridas em um cosmos que vai além de nossa existência: universo, rio, plantas e árvores, também somos sementes nesse sistema.
Palavras chaves:
- Meio ambiente,
- Mãe-terra,
- Povos indígenas
Résumé
« Les semences du monde sont dispersées par la bonté des êtres vivants, des animaux, des vents, par l’eau... ». Ainsi commence l’intervention de l’anthropologue et activiste indigène Kowawa Kapukaja Apurinã. Sous la forme d’un essai situé dans l’environnement forestier, et à travers un récit sensible et engagé, Kowawa nous guide vers une réflexion sur nous-mêmes. « Quelle graine dispersons-nous par le monde ? » Son invitation nous amène à considérer notre propre humanité comme imbriquée dans un cosmos qui va au-delà de notre existence : univers, rivière, plantes et arbres, nous sommes aussi des semences dans ce système.
Mots-clés :
- Environnement,
- Terre-mère,
- Peuples indigènes
Abstract
"The seeds of the world are spread by the kindness of living beings, animals, winds, and water. Thus begins the speech by anthropologist and indigenous activist Kowawa Kapukaja Apurinã. In the form of an essay set in the forest environment, and through a sensitive and engaged account, Kowawa guides us to a reflection about ourselves. "What seeds do we spread around the world?" she inquires. Her invitation leads us to look at our own humanities as embedded in a cosmos that goes beyond our existence: universe, river, plants, and trees, we are also seeds in this system.
Keywords:
- Environment,
- Mother earth,
- Indigenous peoples
Corps de l’article
As sementes do mundo são espalhadas pela bondade dos seres vivos, dos bichos, dos ventos, da água… Existem sementes que são filhas do rio, que dependem da água para se espalhar sobre a Terra. Existem sementes que são filhas do vento, que precisam do vento para se espalhar sobre a Terra. Existem sementes que precisam dos animais para se espalhar pela Terra. E entre esse plantar e esse não plantar, entre estar no mundo e a gente olhar, a gente precisa só entender que nós também somos filhos dos ventos, dos rios e dos animais… Andamos pela Terra e precisamos plantar sementes como os bichos, os rios e os ventos. As árvores, elas têm uma mãe: ou é o animal, ou é a água ou é o vento… E nós, o que nós estamos plantando hoje? Que semente estamos espalhando pelo mundo? A gente tem de entender que as sementes somos nós também e que, por mais que não estejamos plantados na Terra e que tenhamos pés para nos locomover, podemos entender que toda essa dimensão de amor e de afeto continua a resplandecer entre a luz e o escurecer. Também somos sementes, filhas do Universo assim como os rios, os ventos, as árvores. E assim como tudo o que existe, é preciso entender que nós precisamos povoar a Terra de amor, de paz, de natureza, de flores, de árvores e de esperança, porque só assim nós poderemos nos salvar, sementes humanas.
Eu sou Kowawa Kapukaia Apurinã. E eu estou aqui no meio dessa floresta, falando com esses bichos que me chamaram aqui para dizer para vocês que nós também somos sementes.
Parties annexes
Note biographique
Kowawa Kapukaja Apurinã
Indígena da etnia Apurinã do Médio Purus, Sul do Amazonas. Doutoranda em Antropologia nas Universidade Federal Fluminense e Université Paris 3 Sorbonne Nouvelle. Mestra em Antropologia e graduada em Direito e em Artes Visuais. Ativista, atua principalmente na educação indígena, educação ambiental, questões raciais, ações afirmativas, mulheres indígenas, violências e ancestralidade indígena. Membra fundadora do Instituto Pupykary do Povo Apurinã, cofundadora da Articulação Brasileira de Indígenas Antropológes, do coletivo Artivismo Indígena e colaboradora do veículo de jornalismo independente Portal Catarinas. Atualmente, desenvolve pesquisa com o Povo Tupinambá, em Acuipe, Olivença, nas áreas de Retomadas no Sul da Bahia – Brasil.