Le néolibéralisme autoritaire au miroir du BrésilChronique

Nosso amigo Ruy Fausto[Notice]

  • Pierre Dardot et
  • Christian Laval

O anúncio do súbito falecimento de Ruy Fausto, ocorrido em Boulogne-Billancourt no dia 1o de maio como consequência de um infarto, foi para nós, assim como para todos os seus numerosos amigos, um choque de uma tristeza infinita. Ruy Fausto foi presença constante em nosso Grupo de Estudo sobre o Neoliberalismo e Alternativas (GENA) e um grande amigo com o qual vivemos tantas belas tardes e alegres momentos tanto em Paris quanto em São Paulo, na companhia de todas aquelas e todos aqueles que o amavam por aquilo que ele havia feito e escrito em sua vida e por sua presença sempre calorosa, agradável e generosa. Era um homem de sorriso e de cólera, de combate e de trabalho, de paixão e de conversação. Aquelas e aqueles que tiveram a chance de compartilhar com ele esses momentos de ricas trocas de análise sutis, de anedotas vividas e de novas percepções se lembrarão da fina ironia com a qual ele sabia combinar os recordações de uma vida pessoal abalada pelas tragédias políticas da Europa e da América Latina, a história da filosofia no Brasil, os avatares do marxismo mundial, um olhar crítico sobre a esquerda brasileira e o relato de seus compromissos mais recentes para renovar a esquerda francesa. Ruy Fausto era múltiplo : brasileiro, francês, filósofo, poeta, músico, militante, jornalista e professor. E todos esses aspectos davam vida às suas palavras, notadamente aquelas proferidas na cafeteria da BNF, seu quartel general em Paris, onde nos encontrávamos com frequência, esse lugar onde ele sempre encontrou com a maior bondade os jovens doutorandos ou pós-doutorandos vindos estudar em Paris. Ele perseguia tanto em Paris como em São Paulo essa viva ligação entre o pensamento francês e o pensamento brasileiro, essa ligação que o havia verdadeiramente constituído intelectualmente desde a juventude, especialmente graças a alguns de seus mestres, que ele sempre evocou com grande reconhecimento, como Gérard Lebrun, quando ministrou aulas na Universidade de São Paulo, a instituição a que, apesar de seu exílio, Ruy permaneceu profundamente ligado. A França, como para outros jovens intelectuais latino-americanos de sua geração, foi a terra de seu exílio. Ela lhe permitiu construir uma carreira no departamento de filosofia na Universidade de Paris VIII, mas não sem singulares dificuldades na seara das intrigas profissionais, das quais ele guardava uma lembrança vívida. Filósofo engajado, homem de grande cultura, intelectual cosmopolita, Ruy Fausto não concebia o exercício do pensamento confinado entre os muros da universidade. No mais profundo de sua obsessão exegética, Ruy Fausto apenas praticava a filosofia atrelada ao real das sociedades, apenas aquela filosofia que estivesse ligada à vida dos homens. Ele lia os economistas, os sociólogos, os romancistas e os poetas. Às vezes ele confessava seu arrependimento de não ter tempo suficiente para se consagrar à leitura dos escritores. Quantos livros ele ainda tinha para ler ! A Biblioteca Nacional não era para ele um abrigo longe da fúria e do barulho, era um posto de observação do mundo, um arsenal de armas políticas e, também, um lugar onde continuar a aprender. A sala K (filosofia) não será mais a mesma sem ele. E seus trabalhos de alta erudição sobre Marx, que às vezes ele lamentava que não fossem mais lidos, mas que permanecem textos incontornáveis, não contradizem esse engajamento de uma vida. Ruy Fausto é o autor, dentre outras obras, de um livro que marca época : Marx : Lógica e Política. Investigações para uma reconstituição do sentido da dialética, publicado pela editora Publisud em 1986. É preciso inicialmente prestar atenção à data de publicação : estamos no meio dos anos 1980, esses …